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Adonis

Adonis

Adonis – Árvore

adonis

Os famintos plantaram
um bosque para a esperança
o pranto nele se fez
árvores, e os ramos
pátria para as mulheres grávidas
pátria para a colheita.

Cada ramo um embrião
deitado no leito do espaço
como verde a encantar o pranto
fugiu do bosque das cinzas
e das torres da aflição
levando a queixa de fome
até a natureza.


Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Canções para a morte

adonis

1.

A morte quando passa por mim é como se
o silêncio a abafasse
é como se dormisse quando eu dormisse.

2.

Ó mãos da morte, alonguem meu caminho
meu coração é presa do desconhecido,

alonguem meu caminho
quem sabe descubro a essência do impossível
e vejo o mundo ao meu redor.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Árvore do Oriente

adonis

Me fiz espelho
refleti tudo
mudei em teu fogo a cerimônia da água e da vegetação
mudei voz e apelo,

passei a te ver em dois
tu e esta pérola que nada em meus olhos
eu e a água nos fizemos amantes
nasço em nome da água
nasce em mim a água
eu
e a água
nos replicamos.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Bosque da magia

adonis

Seja:
vieram os pássaros, amalgamaram-se as pedras,

seja:
acordarei as ruas e a noite
e passaremos pela alameda das árvores
os ramos serão malas verdes, e o sonho
travesseiro no entretempo das viagens
onde a manhã persiste estranha
e imprime seu rosto em meus segredos,

seja:
um raio apontou, me chamou uma voz
desde o fim das muralhas…

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Árvore do dia e da noite

adonis

Antes que o dia venha chego
antes que se pergunte pelo sol ilumino
árvores vêm correndo atrás de mim
andam à minha sombra cálices de flor
e o delírio em meu rosto ergue
ilhas e penhascos de silêncio cujas portas a palavra
desconhece
se ilumina a noite amiga e se esquecem
no meu leito os dias,

depois, quando as fontes rolarem no meu peito
desabotoarem as vestes e dormirem
acordarei a água e os espelhos, e reluzirei
como eles, a lâmina das visões

então eu durmo.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Flor da alquimia

adonis

Preciso viajar no bosque das cinzas
entre as árvores ocultas
na cinza estão as fábulas, o diamante, o velocino de ouro
preciso viajar na fome, na rosa, rumo às colheitas
preciso viajar, descansar
sob o arco dos lábios órfãos
nos lábios órfãos, em sua sombra ferida
está a antiga flor da
alquimia.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – O sino

adonis

A palmeira se inclinou
o dia e a noite se inclinaram
ele se aproxima, é um de nós,

mas o céu
removeu seu teto de chuva, por ele
se aproximou para pender
o rosto dele sobre nós, como um sino verde.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Entre o eco e a voz

adonis

Se esconde entre o eco e a voz
sob o gelo das letras
no suspiro dos errantes
se esconde nas ondas, entre as conchas.

Tão logo a manhã fecha as portas
sobre seus olhos e ele apaga
ei-lo a levar o lampião
ao monte de sua aflição

e ali se refugia.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Novo testamento

adonis

Não sabe usar estas palavras
não conhece a voz dos desertos
oráculo sonolento como pedra
exaurem-no línguas distantes,

ei-lo a avançar sob os cúmulos
na estação das novas letras
dá-se em poesia aos ventos
rude e mágico como o cobre.

Língua que ondula entre os mastros ele
é o cavaleiro das palavras estranhas.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Seus olhos nascem

adonis

Na rocha possessa e rolante
à procura de Sísifo seus olhos
nascem,

seus olhos nascem
nos olhos apagados perplexos
perguntam por Ariadne
seus olhos nascem
numa trilha como a hemorragia
que flui do cadáver do lugar,

num mundo que veste o rosto da morte
que nenhuma língua exprime e nenhuma voz
seus olhos nascem.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Vivo com a luz

adonis

Vivo com a luz, minha vida exala
e passa, meus instantes duram anos.
Amo em meu país certa salmodia
que os pastores entoam, como o dia.

Atiraram-na ao sol, pedaço de aurora
abençoaram-na, clara, morreram —
se sorrir em teus lábios a morte
terá chorado tua falta a vida.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Carrega nos olhos

adonis

Dos olhos toma um brilho
e do fim dos dias e ventos
toma uma fagulha e das mãos
e das ilhas de chuva
toma uma forma e cria a manhã.

Eu o conheço, carrega nos olhos
a profecia dos mares
me chamou história e
poema que lava o lugar,

eu o conheço, me chamou dilúvio.

 

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Árvore da manhã

adonis

Encontra-me ó manhã no campo do desespero
no caminho até o campo do desespero
árvores secas, quantas vezes prometemos
tornarmo-nos dois leitos duas crianças à sombra seca das
árvores secas,

encontra-me, viste os ramos? ouviste o apelo dos ramos
deixando palavras para a seiva?

palavras-reforço aos olhos
palavras-força a fender rochas,

encontra-me
como se nos encontrássemos e tecêssemos a treva
nos vestíssemos e viéssemos batêssemos à sua porta
soerguêssemos a cortina e abríssemos suas janelas
nos recolhêssemos nas entranhas
dos troncos e implorássemos com nossas pálpebras
e escanceássemos
a ânfora do sonho e das lágrimas
como se ficássemos
no país dos ramos e perdêssemos
o caminho da volta.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Desespero

adonis

Caminha siderado nas pálpebras
conduzido em demorado gemido
desconcerto o atinge por onde anda
como se lhe habitasse os passos.

Vencido pelo ignoto tem as pálpebras
como se horizonte de areias
como se por desespero seu sol
se apagasse no oriente.

Adonis, Poemas

Adonis

Adonis – Caminho

adonis

Caminho e atrás de mim caminham as estrelas
até seu próximo amanhã
o segredo, a morte, o que nasce, o cansaço
amortecem meus passos, avivam meu sangue.

Não iniciei a trilha, ainda
não vejo nenhum jazigo
caminho até mim mesmo, até
meu próximo amanhã
caminho e atrás de mim caminham as estrelas.

Adonis, Poemas