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John Keats

John Keats

John Keats – Ode à melancolia

John Keats

I

Não, não vás ao Letes, nem retorças as raízes
Em feixes do acônito para forjar o vinho venenoso;
Nem deixes tua pálida fronte ser beijada
Pela beladona, uva rubi de Prosérpina;
Não faças teu rosário com as bagas dos teixos,
Nem deixes o besouro, ou a mariposa da morte
Ser tua lúgubre Psique, nem a coruja de penas macias
Ser parceira dos mistérios da tua dor;
Sombra a sombra letárgica virá,
E afogará a angústia desperta da alma.

II

Mas quando o ataque da melancolia cair
Súbito do céu qual nuvem em pranto,
Que revigora as flores cabisbaixas,
E vela a verde colina na mortalha de Abril;
Farta então a dor na rosa da manhã,
Ou no arco-íris da onda salgada na areia,
Ou na abundância das peônias globulares;
Ou se tua amada demonstrar ira intensa,
Ata-lhe a mão suave, e a deixa delirar,
E nutra-te fundo, fundo nos seus olhos ímpares.

III

Ela mora com a Beleza — Beleza que fenecerá;
E com a Alegria, cuja mão nos lábios sempre
Se despede; junto ao doloroso prazer,
Virando Veneno enquanto a boca-abelha sorve.
Sim, e no próprio templo do deleite
A velada melancolia tem seu santuário supremo,
Embora apenas o vislumbre aquele cuja língua audaz
Estala no céu da boca a uva da Alegria;
Sua alma provará a tristeza de seu poder,
E penderá em meio a seus nebulosos troféus.

John Keats, Nas invisíveis asas da poesia

John Keats

John Keats – Ao gato

John Keats

Gato, já está em idade avançada,
Quantos camundongos e ratos em sua vida comeu?
Quantos petiscos roubou?
Olhe com estes lânguidos e brilhantes segmentos de verde,
Ergue as orelhas de veludo
Mas por favor não espetes tuas garras latentes em mim
E mia mais alto — e me conta tuas contendas
Por peixes e camundongos, ratos e tenros galetos.
Não, não baixes os olhos nem lambas teus punhos delicados.
Apesar de teu arfar asmático,
Apesar de teu rabo cortado,
Apesar de muitas empregadas te terem batido,
Tua pele ainda é tão suave como quando duelavas
Na juventude sobre os muros entre cacos de vidro.

John Keats, Nas invisíveis asas da poesia

John Keats

John Keats – No mar

John Keats

Ele sustém eternos murmúreos
Nas praias desoladas, e com suas soberbas cristas
Inunda vinte mil cavernas, até que o sortilégio
De Hécate as deixe com seu velho e assombroso som.
Muitas vezes se encontra tão tranquilo,
Que até a menor das conchas
Permanece dias imóvel
Desde o desenlace dos ventos celestiais.
Vós, cujos olhos se enchem de tormento e tédio,
Regozijai-os com a imensidão do mar;
Vós, cujos ouvidos estão atordoados pelo rude ruído,
Ou enfastiados pela música melosa —
Sentai-vos na boca de uma velha caverna, e meditai
Até que escuteis, como se cantassem, as ninfas do mar!

John Keats, Nas invisíveis asas da poesia