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Francisco Alvim

Francisco Alvim

Francisco Alvim – Bruma

Francisco Alvim

Teu ser inconcluso
trabalha na pedra
e a pedra se esgarça
em bruma.

Tão nítida a hora
as coisas tão nítidas
tua face contudo
na bruma

Talvez tua fala
o som de teus passos
possam desfazer
a bruma

Tua fala é bruma
Teus passos são bruma

 

 

Francisco Alvim, Sol dos cegos

Francisco Alvim

Francisco Alvim – Postulando

Francisco Alvim

A primeira providência
é ver se há um cargo
Se tiver, ele há de querer entrevistá-lo
Ao meio-dia o candidato estará aqui
o senhor querendo
ficarei também para recebê-lo
O telegrama dizia porque meu nome não fora aprovado
razões de segurança, denúncia de um amigo
que virou meu inimigo
Foram corretos comigo
deixaram-me ver o telegrama
Não entendi
Dois meses antes me haviam chamado de volta
para responder a inquérito
Saí limpo
Ainda comentaram
passou no exame, meu velho
É bom que você saiba
que tenho de fazer a consulta
Um dia desses por que não saímos?

 

Francisco Alvim, 26 poetas hoje

Francisco Alvim

Francisco Alvim – Muito obrigado

Francisco Alvim

Ao entrar na sala
cumprimentei-o com três palavras
boa tarde senhor
Sentei-me defronte dele
(como me pediu que fizesse)
Bonita vista
pena que nunca a aviste
Colhendo meu sangue:
a agulha enfiada na ponta do dedo
vai procurar a veia quase no sovaco
Discutir o assunto
fume do meu cigarro
deixa experimentar o seu
(Quanto ganhará este sujeito)
Blazer, roseta, o país voltando-lhe
no hábito do anel profissional
Afinal, meu velho, são trinta anos
hoje como ontem ao meio-dia
Uma cópia deste documento
que lhe confio em amizade
Sua experiência nos pode ser muito útil
não é incômodo algum
volte quando quiser

Heloísa Buarque de Hollanda, 26 poetas hoje