Chego sempre à hora certa, contam comigo, não falho, pois adoro o meu emprego: o que detesto é o trabalho. Millôr Fernandes, Pif-Paf
Categoria: Millôr Fernandes
Millôr Fernandes – Poeminha incomparável
Ele é rico Tem um dinheiro infinito Tem conforto e paparico Mora bonito Não tem pressa Nem é aflito Vive à beça Come do bom e melhor Faz tudo que pensa e quer Conhece o mundo de cor E pode escolher mulher. Eu sou pobre, Triste e feio, Empate na vida Coluna do meio Perdi …
Millôr Fernandes – A cigarra e a formiga
Cantava a Cigarra Em dós sustenidos Quando ouviu os gemidos Da Formiga Que, bufando e suando, Ali, num atalho, Com gestos precisos Empurrava o trabalho; Folhas mortas, insetos vivos. Ao vê-la assim, festiva, A Formiga perdeu a esportiva: “Canta, canta, salafrária, E não cuida da espiral inflacionária! No inverno Quando aumentar a recessão maldita Você, …
Millôr Fernandes – Poesia exploratória
Quem alisa os meus cabelos? Quem me tira o paletó? Quem, à noite, antes do sono, acarinha meu corpo cansado? Quem cuida de minha roupa? Quem me vê sempre nos sonhos? Quem pensa que sou o rei desta pobre criação? Quem nunca se aborrece de ouvir a minha voz? Quem paga o meu cinema, seja …
Millôr Fernandes – Poeminha última vontade
Enterrem meu corpo em qualquer lugar. Que não seja, porém, um cemitério. De preferência, mata; Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá. Na tumba, em letras fundas, Que o tempo não destrua, Meu nome gravado claramente. De modo que, um dia, Um casal desgarrado Em busca de sossego Ou de saciedade solitária, Me descubra entre folhas, …
Millôr Fernandes – Certidão poeminha à certeza total
Eu sei, rapaz, confesso Que estava errado ontem E você, certo. Mas você não estava certo De que eu estava errado. Eu, desde o início, Admiti a hipótese De você estar certo. Politicamente eu agia errado. Mas estava aberto no meu erro. Você, fechado, em defesa, Amedrontado na sua certeza. Errado, espiritualmente eu estava certo …
Millôr Fernandes – Poesia Matemática
Às folhas tantas Do livro matemático Um Quociente apaixonou-se Um dia Doidamente Por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável E viu-a, do Ápice à Base. Uma Figura Ímpar; Olhos romboides, boca trapezoide, Corpo octogonal, seios esferoides. Fez da sua Uma vida Paralela à dela Até que se encontraram No Infinito. “Quem és tu?” indagou …