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Fabrício Carpinejar

Fabrício Carpinejar

Fabrício Carpinejar – Acabou o amor

Estava tomando café com um amigo.
E o telefone dele tocou, tocou, tocou sem parar.
Eu perguntei: não vai atender?
Ele disse que não, não era nada de mais, que era a mulher dele.
Pode ser importante, insisti.
Ele explicou que não tinha vontade de ouvi-la.
Busquei entender: aconteceu alguma coisa? Brigaram?
Não, ele me respondeu, não haviam discutido, não aconteceu nada, somente não tinha interesse.
O número da esposa apareceu na tela mais duas vezes sem esperança, em histérico silêncio.
Daí entendi algo importante: quando a esposa deixa de ser prioridade, acabou o amor.
Quando a esposa é adiada não tem mais amor.
Quando não há mais curiosidade, desejo de escutar sua voz acima de tudo e de qualquer coisa, no meio do trabalho ou da alegria entre amigos, acabou o amor.
Quando não há questão de socorrer ou de acalmar, de conversar ou de saber o que aconteceu, acabou o amor.
Acabou o amor.

 

Fabrício Carpinejar, Para onde vai o amor?

Fabrício Carpinejar

Fabrício Carpinejar – Você poderia

Você pode amar para esquecer quem foi um dia.
Você pode amar para lembrar quem foi um dia.
Você pode amar para recuperar a infância.
Você pode amar para repetir a adolescência.
Você pode amar para combater a velhice.
Você pode amar de olhos abertos, enxergando as falhas.
Você pode amar de olhos fechados, relevando os foras.
Você pode amar para se endividar.
Você pode amar para criar patrimônio.
Você pode amar para encontrar equilíbrio.
Você pode amar para se aproximar do abismo.
Você pode amar para ganhar lucidez.
Você pode amar para enlouquecer.
Você pode amar para adoecer de ciúme.
Você pode amar para ter segurança.
Você pode amar pessimista, falando mal aos seus amigos.
Você pode amar com esperança, silenciando os atritos.
Você pode amar magoado.
Você pode amar leve e desembaraçado.
Você pode amar para romper o padrão de antigos amores e aceitar que estava errado.
Você pode amar para imitar outros amores e se convencer de que estava certo.
Você pode amar fraquejando e acreditando nas próprias mentiras.
Você pode amar dizendo unicamente a verdade e suportando as crises da franqueza.
Você pode amar para confirmar expectativas.
Você pode amar para contrariar sua idealização.
Você pode amar para converter bandidos em santos.
Você pode amar para fazer santos pecarem.
Você pode amar à primeira vista.
Você pode amar por repescagem.
Você pode amar desconfiando e questionando as evidências.
Você pode amar por clarividência.
Você pode amar para ser triste e se deprimir com canções e livros.
Você pode amar para alegrar as estantes e os ouvidos.
Você pode amar para concordar com o terapeuta.
Você pode amar para se opor ao terapeuta.
Você pode amar para fugir da família.
Você pode amar para unir a família.
Você pode amar superficialmente, escondendo o que pensa.
Você pode amar profundamente, sem segredos e âncora para se fixar nas palavras.
Você pode amar pelo sexo.
Você pode amar pelo romance.
Você pode amar pela exposição.
Você pode amar pela solidão a dois.
Você pode amar os intermináveis problemas e brigas.
Você pode amar a paz que vem com o fim da noite.
Você pode amar compreendendo e rindo dos defeitos.
Você pode amar julgando e condenando as diferenças.
Você pode amar cuidando das roupas, da comida, da casa.
Você pode amar com a arruaça das ruas e da boemia.
Mas amor mesmo é quando você está contando seus dias, com toda a concentração dos números, e alguém chega para lhe atrapalhar de eternidade. E você esquece onde estava, a soma da sua vida, e só pensa em ficar para sempre do jeito que for. Ainda que seja por um dia.

 

Fabrício Carpinejar, Para onde vai O Amor?