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William Butler Yeats

William Butler Yeats

William Butler Yeats – Leda e o Cisne

William Butler Yeats

Um baque surdo. A asa enorme ainda se abate
Sobre a moça que treme. Em suas coxas o peso
Da palma escura acariciante. O bico preso
À nuca, contra o peito o peito se debate.

Como podem os pobres dedos sem vigor
Negar à glória e à pluma as coxas que se vão
Abrindo e como, entregue a tão branco furor,
Não sentir o pulsar do estranho coração?

Um frêmito nos rins haverá de engendrar
Os muros em ruína, a torre, o teto a arder
E Agamemnon, morrendo.
Ela, tão sem defesa,

Violentada pelo bruto sangue do ar,
Se impregnaria de tal força e tal saber
Antes que o bico inerte abandonasse a presa?

William Butler Yeats, Poesia da recusa

William Butler Yeats

William Butler Yeats – Nos sete bosques

William Butler Yeats

Eu ouvi os pombos dos Sete Bosques
Fazer seu trovão fraco, e as abelhas do jardim
cantarolar nas flores da tília; e ponha de lado
Os clamores inúteis e a velha amargura
Que esvaziam o coração. Eu esqueci por um tempo
Tara desenraizada, e nova vulgaridade
Sobre o trono e chorando pelas ruas
E pendurando suas flores de papel de um poste para outro,
Porque é o único feliz de todas as coisas.
Estou contente porque sei que Quiet Wanders
Rindo e comendo seu coração selvagem
Entre pombos e abelhas, enquanto aquele Grande Arqueiro,
Que apenas espera Sua hora para atirar, ainda pendura
Uma aljava nublada sobre Parc-na-Lee.

William Butler Yeats, Nos sete bosques

William Butler Yeats

William Butler Yeats – A segunda vinda

William Butler Yeats

Rodando em giro cada vez mais largo,
O falcão não escuta ao falcoeiro;
Tudo esboroa; o centro não segura;
Mera anarquia avança sobre o mundo,
Maré escura de sangue avança e afoga
Os ritos da inocência em toda parte;
Os melhores vacilam, e os piores
Andam cheios de irada intensidade.

Aí vem por certo uma revelação.
Por certo próxima é a Segunda Vinda.
Segunda Vinda! Digo essas palavras,
E do Spiritus Mundi vasta imagem
Turba-me a vista: ao longe, no deserto,
Um corpo de leão com rosto de homem,
O olhar vazio e duro como o sol,
As lerdas coxas move, enquanto em torno
Rondam sombras de pássaros coléricos.
Retorna a escuridão; mas ora eu sei
Que a vinte séculos de sono pétreo
Vexou o pesadelo de um bercinho;
E que rude animal, chegado o tempo,
Arrasta-se a Belém para nascer?

William Butler Yeats, W. B. Yeats – poemas

William Butler Yeats

William Butler Yeats – A rosa do mundo

William Butler Yeats

Quem sonhou que a beleza passa como um sonho?
Por estes lábios vermelhos, com todo o seu magoado orgulho,
Tão magoados que nem o prodígio os pode alcançar,
Tróia desvaneceu-se em alta chama fúnebre,
E morreram os filhos de Usna.

Nós passamos e passa o trabalho do mundo:
Entre humanas almas que se agitam e quebram
Como as pálidas águas e seu fluxo invernal,
Sob as estrelas que passam, sob a espuma do céu,
Vive este solitário rosto.

Inclinai-vos, arcanjos, em vossa incerta morada:
Antes de vós, ou de qualquer palpitante coração,
Fatigado e gentil alguém esperava junto ao seu trono;
Ele fez do mundo um caminho de erva
Para os seus errantes pés.

William Butler Yeats, W.B.Yeats: uma antologia

William Butler Yeats

William Butler Yeats – Quando fores velha

William Butler Yeats

Quando já fores velha, e grisalha, e com sono,
Pega este livro: junto ao fogo, a cabecear,
Lê com calma; e com os olhos de profundas sombras
Sonha, sonha com o teu antigo e suave olhar.

Muitos amaram-te horas de alegria e graça,
Com amor sincero ou falso amaram-te a beleza;
Só um, amando-te a alma peregrina em ti,
De teu rosto a mudar amou cada tristeza.

E curvando-te junto à grade incandescente,
Murmura com amargura como o amor fugiu
E caminhou montanha acima, a subir sempre,
E o rosto em multidão de estrelas encobriu.

William Butler Yeats, Poemas de W. B. Yeats

William Butler Yeats

William Butler Yeats – Prazer do difícil

William Butler Yeats

O prazer do difícil tem secado
A seiva em minhas veias. A alegria
Espontânea se foi. O fogo esfria
No coração. Algo mantém cerceado
Meu potro, como se o divino passo
Já não lembrasse o Olimpo, a asa, o espaço,
Sob o chicote, trêmulo, prostrado,
E carregasse pedras. Diabos levem
As peças de sucesso que se escrevem
Com cinquenta montagens e cenários,
O mundo de patifes e de otários
E a guerra cotidiana com seu gado,
Afazer de teatro, afã de gente.
Juro que antes que a aurora se apresente
Eu descubro a cancela e abro o cadeado.

William Butler Yeats, Poesia da recusa