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Anne Morrow Lindbergh

Anne Morrow Lindbergh

Anne Morrow Lindbergh – Até mesmo

Anne Morrow Lindbergh

Aquele que amo, desejo que seja
livre:

Livre como um ramo despido
no alto de uma árvore,
alheio à luta entre os galhos
que se agitam em busca da luz.
Livre da escura mortalha,
onde tombam as sombras –
voltado para o olho dourado
do céu.
Livre como a gaivota,
sozinha num sopro de ar,
invisível,
onde
ninguém poderá tocá-la,
nenhuma voz alcançá-la,
ninguém vir
surpreendê-la.

Livre como uma folha
de grama,
em meio ao verde,
anônima,
entre inúmeras iguais,
que se espicham, se alinham,
recobrindo a terra,
felizes,
apontando o azul,
repartindo o sol,
envoltas,
ainda, uma a uma,
em frescas gotas
de orvalho.

Aquele que amo, desejo que seja
livre –
até mesmo de mim.

Anne Morrow Lindbergh, O Unicórnio e outros poemas

Anne Morrow Lindbergh

Anne Morrow Lindbergh – Pressentimento

Anne Morrow Lindbergh

Imóvel como árvore no outono,
onde não bate o vento, onde não há
sopro ou movimento e, mesmo assim,
no alto, num galho,
por nenhuma razão aparente,
uma única folha oscila
violentamente.

Para que melodia
ela dança?
Que nota perdida vibra
em mim?
Do passado ou do futuro?
Memória
ou Pressentimento?

Anne Morrow Lindbergh, O Unicórnio e outros poemas

Anne Morrow Lindbergh

Anne Morrow Lindbergh – Concha partida

Anne Morrow Lindbergh

Não procures mais a concha perfeita, a forma
inteira e inviolada, que não trincou sob os dentes do tempo;
a armadura de alabastro ainda intocada
pela ação erosiva das areias e das ondas que rolam na praia.

Que outra beleza poderíamos resgatar do mar inconstante
do que estes pequenos esqueletos que se espalham
como flores dispersas sob o céu,
ainda intactas em sua renúncia de vida?

Eis a manhã da criação
retida em seu pequeno lábio, concavidade vazia, destemida;
sua moldura vazada persiste, como um testamento,
em fragmentos, de seu primeiro movimento terreno.

Veja a espiral que mostra as nervuras
de seu crescimento. Erguida como uma bússola em seu arco,
balança-se eternamente no absoluto,
cantando a beleza como uma flauta de prata.

Anne Morrow Lindbergh, O Unicórnio e outros poemas

Anne Morrow Lindbergh

Anne Morrow Lindbergh – Árvore nua

Despiram-me das folhas de minha juventude,
levadas pelo vento do tempo, deixando-me
como aos galhos no inverno. Permaneço,
ereta e solitária, a testemunhar outras vidas,
emoldurando outro brilho,
harpa a tocar uma paixão que não é minha.

Minha ramagem, um leque aberto
ao céu, novamente trará
os mistérios desfolhados que tanto amei,
com raízes e ramos igualmente nus,
os galhos que sorvem a chuva ou balançam ao sol
são os mesmos; a sombra e a essência são uma.
Agora que já perdi as folhas tão frágeis,
não há nada mais a cobrir, nada mais a ocultar.

Vida, sopra por mim agora, finalmente despida,
pois me tornei tão frágil e tão destemida!

Anne Morrow Lindbergh, O Unicórnio e outros poemas