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Elisa Lucinda

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Retrato do dia seguinte

elisa lucinda

O dia era bem filho daquela madrugada.
Era a cara dele, praticamente.
Bonito e bordado de harmonia entre nós:
me levou pela mão, ofereceu-me os próprios chinelos querendo,
descalço e delicado,
a proteção dos meus pés.
Pegou uma fruta do pé e me ofertou como flor.
Introduziu, safado e romântico,
a colher com um pedaço tremulante
de pudim com calda na minha boca.
Andou pelo pasto lembrando, menino lindo e solitário,
a infância dele.
Até que me chamou: Dadá!
(Pra que eu visse a beleza amarela de uma borboleta
pousada na folha do dia)
Dadá! Dadáááááá…
Ai, era meu nome de eu ser dele.
Meu homem…
a voz de meu homem ventou doce sobre o milharal
e acentuou o cheiro das tangerinas,
deu mais suculência às peras da pereira
e brotou sossego no meu coração.

Ninguém pode nos tirar esta memória,
este filme de paz em nós no meio do pasto,
esta água fervorosa do nosso amor
e a película incomparável de sua fina sede.

Ninguém jamais retirará o retrato desse dia
da alma de minha parede.

Elisa Lucinda, A fúria da beleza

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Euteamo e suas estréias

elisa lucinda

Te amo mais uma vez esta noite
talvez nunca tenha cometido “euteamo”
assim tantas seguidas vezes, mal cabendo no fato
e no parco dos dias.
Não importa, importa é a alegria límpida
de poder deslocar o “Eu te amo”
de um único definitivo dia
que parece bastá-lo como juramento
e cuja repetição, parece maculá-lo ou duvidá-lo…
Qual nada!
Pois que o euteamo é da dinâmica dos dias
É do melhoramento do amor
É do avanço dele
É verbo de consistência
É conjugação de alquimia
É do departamento das coisas eternas
que se repetem variadas e iguais todos os dias
na fartura das rotações e seus relógios de colmeias
no ciclo das noites e na eternidade das estréias:
O sol se aurora e se põe com exuberância comum e com
novidade diária
e aí dizemos em espanto bom: Que dia lindo!
E é! Porque só aquele dia lindo
é lindo como aquele.
Nossa sede, por mais primitiva,
é sempre uma
loucura da falta inédita
até o paraíso da água nova
no deserto da nova goela.
Ela, a água,
a transparente obviedade que
habita nosso corpo
e nos exige reposição cujo modo é o
prazer.
Vê: tudo em nós comemora
o novo milenar de si
todas as horas:
Comer é novidade
Dormir é novidade
Doer é novidade
Sorrir é novidade
Maravilhosa repetitiva verdade que se
expõe em cachos a nosso dispor
variando em sabor e temor e glória
Por isso te amo agora como nunca antes
Porque quando te amei ontem
eu te amava naquele tempo
e sou hoje o gerúndio daquela disposição de verbo
Te amo hoje com você dentro
embora sem você perto
Te amo em viagem
portanto em viragem diferente da que quando
estava perto
Meu certo é alto, forte

Te amo como nunca amei
você longe, meu continente, meu rei
Eu te amo quantas vezes for sentido
e só nesse motivo é que te amarei.


Elisa Lucinda, Euteamo e suas estréias

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Boa-tarde, amor

elisa lucinda

É melhor não mexer com essa dor…
parece tolice o que você me disse
mas me machucou.
Parece besteira, mas dá uma tristeza
gastar esta tarde sem gestos de amor.
É melhor não mexer com essa dor!
Com o céu azul assim no estampado,
com as matas rompendo concreto com seu rendado,
em meio à cidade do sonho e do vício,
do trânsito do edifício, não acho difícil
a gente reparar — na beleza
a gente achar — a beleza
a gente eleger — a beleza
a gente ficar — na beleza,
pra gente mirar.
Então, por favor,
é melhor não mexer com essa dor!
Parece descaso mas é um estrago
passar essa tarde mexendo no horror.
Parece loucura mas é uma tortura
matar essa tarde lembrando o terror.
É melhor não mexer com essa dor!
Com o dia rolando assim lindo e calado,
com as notas musicais de um teclado,
em meio à cidade do ofício e do riso,
do afeto e do lixo, não acho difícil
a gente pescar — a beleza
a gente sacar — a beleza
a gente firmar — na beleza
a gente espiar — a beleza
a gente se amar — na beleza,
pra gente gozar.
Então, por favor,
é melhor não mexer com essa dor!
Parece mentira mas dá ziquizira
roer esta tarde com ódio e bolor.
Parece bobagem mas é sacanagem
perder esta tarde brindando o rancor.
É melhor não mexer com essa dor,
que a tarde é linda, que a tarde é boa
e, antes que seja tarde, boa tarde, amor!

Elisa Lucinda, A fúria da beleza

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Bandeira

elisa lucinda

Nesta tarde passa por mim um homem.
Este homem de mãos calejadas
e duras e grossas
paraibano
trabalhador
passa mulato e marrom por mim
com seus cabelos cacheados longos, mestiços
saindo molhados pelo buraco do boné.
Passa ele cheiroso que só
acabado de se banhar
e perfumado por cima.

Para onde vai?
Alguma mulher?
Era dia de pagamento?
Seguia pisando satisfeito
aquele homem operário da construção civil
dos civis do Leblon.
Passa e deixa um perfume bom.
Via-se que era um homem indo
ao encontro do sonho.
Tinha esperança nos ares dele.

Este homem
paraíba
masculino
operário
construtor
sonhador
esperançoso
trabalhador
brasileiro
e sem revólver
este homem
me comove.

Elisa Lucinda, A fúria da beleza

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Antibélica

elisa lucinda

Fazia roupinhas de boneca, meu Deus,
tão linda que ela era!
Tão linda…
os vestidinhos, bem-feitos e muito bem acabadinhos
por dentro e por fora,
eram arte.
Eu disse: como você é linda
fazendo estas roupinhas de boneca! Linda!

Ela me olhou doce e, de dentro dos olhos
de seus sessenta e cinco anos,
saltou a menina de oito pra me dizer, singela:
é só tirar o modelo.
Senti amor pela senhora e pela pequena.
Ah, tem gente que é poema!

Elisa Lucinda, A fúria da beleza

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – O poema do semelhante

elisa lucinda

Ponho o lenço do pescoço na cabeça
Molho os cabelos com calma
uma mulher é uma espécie de alma com enfeite
Chega diante do espelho
adorna-se como uma árvore de natal
nem é natal
mas ela vai dar bola
Às vezes não varre o quintal
mas pinta as maçãs
blushes ruges
Às vezes não costura
mas realça cortinas
cílios rímel lápis
Às vezes não conserta as portas
mas pinta as bordas das janelas
pálpebras delineador sombra
Mulher é uma Eva encantada
de espalhar-se por fora
em paraíso
batom cintura tesão juízo
pulseiras brincos balangandãs
são seus sonhos de fachada
que repetem de dentro
que rondam a porta da casa
Invento de princesa

Durante todas as primaveras
um cardume de cinderelas

ainda insiste dentro dela.

Elisa Lucinda, Euteamo e suas estréias

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Lilith Balangandã

elisa lucinda

Ponho o lenço do pescoço na cabeça
Molho os cabelos com calma
uma mulher é uma espécie de alma com enfeite
Chega diante do espelho
adorna-se como uma árvore de natal
nem é natal
mas ela vai dar bola
Às vezes não varre o quintal
mas pinta as maçãs
blushes ruges
Às vezes não costura
mas realça cortinas
cílios rímel lápis
Às vezes não conserta as portas
mas pinta as bordas das janelas
pálpebras delineador sombra
Mulher é uma Eva encantada
de espalhar-se por fora
em paraíso
batom cintura tesão juízo
pulseiras brincos balangandãs
são seus sonhos de fachada
que repetem de dentro
que rondam a porta da casa
Invento de princesa

Durante todas as primaveras
um cardume de cinderelas

ainda insiste dentro dela.


Elisa Lucinda, Euteamo e suas estréias

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – O poema do semelhante

elisa lucinda

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.

Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança

seria sozinha minha esperança.

Elisa Lucinda, O semelhante

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Vaidade

elisa lucinda

À tarde que me seduz,
o parado sonso do vento
nas árvores, estátuas de verde
prateadas por um só fio filete de luz,
rendida estou e
sou dela refém.
Transito em seu planeta.
Levito parada feita a paisagem.
É que eu também dela sou paisagem,
e faço agora, de cabeça,
versos que só escrevi depois.

Há muitos anos a tarde me sequestra, ora pois!
Há inúmeras cigarras esta orquestra me detém e liberta!
Sob seu sovado me leva,
sou seu pão.

O que ninguém sabia até então,
nem eu,
é que este pão,
o famoso gostoso pão da tarde,
o das tardes frias,
o das tardes quietas,
o das tardes quentes e
o das tardes inquietas,
é feito da carne do trigo do olhar do poeta.

Elisa Lucinda, A fúria da beleza

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Cor-respondência

elisa lucinda

Remeta-me
os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem-feito
que você tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era seu jeito
ou de propósito
mas era bom
sempre bom
e assanhava as tardes
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.

Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.

Elisa Lucinda, O semelhante

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Consagração da criatura

elisa lucinda

Filho…, igualzinho à minha poesia
você nunca foi meu órgão
A arte é constante e me habita à hora que ela quer
e à hora que eu deixo
Mas não me existe combinada, não há contratos nem despejos
você tem intimidade com meus interiores
com meus departamentos
Você é um argumento contra mim e a meu favor
Me trai porque conhece meu avesso
Me enobrece porque me tornou poderosa
Capaz de prosseguir com essa invenção chamada humanidade
Você é a barbaridade de ter feito a minha barriga crescer
Meu corpo zunir, abrir, escancarar pra você sair
de onde eu nunca pus sequer os pés, as mãos
da casa em que vivo e habito sem nunca ter entrado
porque moro fora de mim.
O que faz de seu édipo eficiência
e de seu abuso, cultura
é essa estrutura feita de mim
sem que eu tenha em ti o mesmo acesso
Por isso a criatura é mais que o criador
e você que saiu por onde entrou

Como ocorre com o poema
tem seu passaporte carimbado para todos os estados
de minha alma, de meu espírito
Você que é onírico, sábio vassalo
Me tiraniza e perde a fala, o fôlego, o faro
Me organiza e ganha o futuro
e ainda segura o jogo duro de viver independente de minha respiração
Espião de meus bastidores
Olhou minhas entranhas enquanto virava ser humano
quieto dentro de mim como as palavras antes de serem poesia
Mas fui apenas uma pensão, uma besteira
ou um hotel cinco estrelas
ou um amniótico colchão.
Hoje saído dessa embalagem, me olhas como miragem
de parecer tão próprio, tão seu
Me olhas como árvore
ziguezagueia e olha para o que fui: passageira semente.
Me olha como gente que já me viu por dentro
vasculhou meu plasma, minhas gavetas
me deixou pasma, coroou minha buceta
e sabe meu segredo
Me olha elegante e vestido
e se sente despido ao saber que o olho de minha coxia
também te viu virar varão.

Deixar de ser óvulo, indefinição, projeto, embrião
e haverá sempre um leite materno
escorrendo pelo seu terno
como mirra, bênção, distração
como birra, alimento, maldição
maior que mim, melhor que mim.
Está pronto e feito, como o meu melhor poema
Nem branco nem preto.
Nem real nem ilusão.
Um grande amuleto da palavra são.

Elisa Lucinda, O semelhante

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Credo

elisa lucinda

De tal modo é
que eu jamais negá-lo poderia:
sou agarrada na saia da poesia!

Para dar um passeio que seja,
uma viagem de carro avião ou trem,
à montanha, à praia, ao campo,
uma ida a um consultório
com qualquer possibilidade, ínfima que seja, de espera,
passo logo a mão nela pra sair.
É um Quintana, uma Adélia, uma Cecília, um Pessoa
ou qualquer outro a quem eu ame me unir.

Porque sou humano e creio no divino da palavra,
pra mim é um oráculo a poesia!
É meu tarô, meu baralho, meu tricô,
meu I-ching, meu dicionário,
meu cristal clarividente,
meus búzios,
meu copo com água,
meu conselho,
meu colo de avô,
a explicação ambulante pra tudo o que pulsa e arde.
A poesia é síntese filosófica, fonte de sabedoria,
e bíblia, dos que, como eu, creem na eternidade do verbo,
na ressurreição da tarde e na vida bela.
Amém.

Elisa Lucinda, Poesia do encontro

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Carta devolvida

elisa lucinda

Se não gostar mais de mim
não me responda nada
não me diga nada
não quero que fiquem gravadas
as palavras do não querer.

Se não gostar mais de mim
ninguém precisa saber
nem eu.
Se não gostar mais de mim
seja breve seja leve seja zen
silêncio de ioga e Sidartha.
Mas se ainda sonhar comigo,
por favor, meu amor,
devolva essa carta.


Elisa Lucinda, Vozes guardadas

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – Da chegada do amor

elisa lucinda

Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o “garantido” amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que sua estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um amor que amasse.

Elisa Lucinda, Euteamo e suas estréias

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda – amanhecimento

elisa lucinda

De tanta noite que dormi contigo
no sono acordado dos amores
de tudo que desembocamos em amanhecimento
a aurora acabou por virar processo.
Mesmo agora
quando nossos poentes se acumulam
quando nossos destinos se torturam
no acaso ocaso das escolhas
as ternas folhas roçam
a dura parede.
nossa sede se esconde
atrás do tronco da árvore
e geme muda de modo a
só nós ouvirmos.
Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos
o pio de todas as asneiras
todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha
para um dia partirem em revoada.
Ainda que nos anoiteça
tem manhã nessa invernada
Violões, canções, invenções de alvorada…
Ninguém repara,
nossa noite está acostumada.

Elisa Lucinda, O semelhante