É fama que estava o corvo Sobre uma árvore pousado E que no sôfrego bico Tinha um queijo atravessado. Pelo faro, àquele sítio Veio a raposa matreira, A qual, pouco mais ou menos, Lhe falou desta maneira: – Bons dias, meu lindo corvo; És glória desta espessura; És outra fénix, se acaso Tens a voz …
Categoria: Bocage
Bocage – Fábula
Contam que certa raposa, Andando muito esfaimada, Viu roxos, maduros cachos Pendentes de alta latada. De bom grado os trincaria, Mas sem lhes poder chegar, Disse: “Estão verdes, não prestam, Só os cães os podem tragar!” Eis cai uma parra, quando Prosseguia seu caminho, E, crendo que era algum bago, Volta depressa o focinho. …
Bocage – A Rosa
Tu, flor de Vénus, Corada Rosa, Leda, fragrante, Pura, mimosa, Tu, que envergonhas As outras flores, Tens menos graça Que os meus amores. Tanto ao diurno Sol coruscante Cede a nocturna Lua inconstante, Quanto a Marília Té na pureza Tu, que és o mimo Da Natureza. O buliçoso, Cândido Amor Pôs-lhe nas faces Mais viva …
Bocage – Nada se Pode Comparar Contigo
O ledo passarinho, que gorjeia D’alma exprimindo a cândida ternura; O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia; O Sol, que o céu diáfano passeia, A Lua, que lhe deve a formosura, O sorriso da Aurora, alegre e pura, A rosa, que entre os Zéfiros ondeia; A serena, amorosa Primavera, O doce autor …
Bocage – Nascemos para amar
Nascemos para amar; a Humanidade Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. Tu és doce atractivo, ó Formosura, Que encanta, que seduz, que persuade. Enleia-se por gosto a liberdade; E depois que a paixão na alma se apura, Alguns então lhe chamam desventura, Chamam-lhe alguns então felicidade. Qual se abisma nas lôbregas tristezas, Qual …