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Charles Simic

Charles Simic

Charles Simic – O segredo

Charles Simic

Tenho minha desculpa, Sr. Morte,
O velho bilhete que minha mãe escreveu
No dia em que faltei à escola.
Nevava. Falei que minha cabeça doía
E o peito também. O relógio deu
A hora, deitei na cama do meu pai
Fingindo dormir.

Pela janela pude ver
Telhados cobertos de neve. Na minha cabeça,
Eu montava um cavalo; estava num navio,
Num mar tormentoso. Então cochilei.
Quando acordei, a casa estava calma.
Onde estava minha mãe?
Escrevera o bilhete e partira?

Levantei e fui procurá-la.
Na cozinha nosso gato branco
Mordiscava a cabeça sangrenta de um peixe.
No banheiro, a banheira estava cheia,
O espelho e a janela embaçados.
Quando os enxuguei, vi minha mãe
De roupão de banho e chinelos
Falando com um soldado na rua
Enquanto a neve ia caindo,
E ela pôs um dedo
Sobre os lábios, e lá o deixou.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro

Charles Simic

Charles Simic – Arquitetura penal

Charles Simic

Escola, prisão, orfanato público,
Percorri seus corredores cinzentos
De pé nos cantos mais escuros
a cara contra a parede.

O assassino sentou-se na fileira da frente.
Uma Ofelinha louca
Escreveu a data no quadro-negro.
O carrasco era meu melhor amigo.
Sempre de preto.

Paredes fendidas, descascadas
Grades em todas as janelas,
Sequer uma lâmpada
Para o menino na solitária
E o velho diretor
Põe os óculos.

Naquele cômodo com seus poentes vermelhos,
Era a vez da eternidade falar,
E nós ouvíamos sem respirar
Embora nossos corações
Fossem feitos de pedra.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro