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Carlito Azevedo

Carlito Azevedo

Carlito Azevedo – Ela usava vestidos viventes

Ana dos mil dias, ou de quantos mil segundos mais
de respiração áspera e opressa?
A cabeça suporta, em despressurização
polinizada, quanto tempo mais afundada na
cisterna dessa ausência, quando é verão
e o vento tatua nos abraços mais
que nos braços
o nome da cidade?
Quantos mais sem que eu
saiba como e quando (e se) gastar
na chama do impulso a pétala
do sexo e a queda
em sobressalto
da omoplata ao último alvéolo
suspirante?

 

Carlito Azevedo, Sublunar

Carlito Azevedo

Carlito Azevedo – Emblemas

Um imigrante
bate fotos trepado
no toldo de
um quiosque
a multidão grita
em frente ao Banco
aparece um malabar
aparece um pastor
imagens da pura
desconexão
aparecem as montanhas
lilases do Cáucaso
mas na foto buscada só
aparece a imagem
da menina
com seu coelho
de pelúcia
sua dobra
cor de ferrugem
contra a luminosidade

Os rostos
se sucedem
nos monitores
dentro da
sala de segurança
do Banco
como projeção
de slides

todos ali riem
quando veem
um falso
Vladimir Ilitch
bêbado
se engraçando
com a jovem
olhos de guepardo
leitora de Rilke
seios grandes

Entre tantos
manifestantes
é ela quem arranca
a primeira
ereção do dia
do segurança
de óculos espelhados:

uma pequena
vibração
em um dia cheio
de vibrações

Carlito Azevedo, Monodrama