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Wallace Stevens

Wallace Stevens

Wallace Stevens – Da poesia moderna

Wallace Stevens

O poema da mente no ato de encontrar
O que há de bastar. Nem sempre foi preciso
Procurar: o palco estava pronto, era só repetir
O roteiro.
Então o teatro transformou-se
Em outra coisa. Seu passado era um suvenir.
Tem que estar vivo, aprender a fala do lugar.
Tem que encarar os homens desse tempo e buscar
As mulheres desse tempo. Tem que pensar na guerra
E achar o que há de bastar. Tem que construir
Um palco novo. Tem que subir nesse palco
E, como um ator insaciável, lentamente e
Com meditação, falar ao pé do ouvido,
No mais sutil ouvido da mente, repetir,
Exatamente, o que ele quer ouvir, ao som
Do qual uma plateia invisível escuta
Não a peça, e sim ela própria, expressa
Numa emoção como de duas pessoas, duas
Emoções virando uma só. O ator
É um metafísico no escuro, tangendo
Um instrumento, uma corda metálica que gera
Sons que trespassam súbitas certezas, contendo
A mente toda, aquém da qual descer não pode,
Além da qual não quer subir.
Tem que ser
A descoberta da satisfação, talvez
Um homem patinando, uma mulher que dança ou
Se penteia. O poema do ato da mente.

Wallace Stevens, O imperador do sorvete e outros poemas

Wallace Stevens

Wallace Stevens – Ao sair da sala

Wallace Stevens

Você fala Diz: O caráter do agora não é
Esqueleto saído do estojo. Eu também não.

Aquele poema sobre o abacaxi, aquele
Sobre a mente sempre insatisfeita,

Aquele sobre o herói plausível, e o outro
Sobre o verão, não são pensamentos de esqueleto.

Terei eu vivido uma vida de esqueleto,
De um descrente da realidade,

Compatriota de todos os ossos do mundo?
Agora, aqui, a neve que eu esquecera se transforma

Em parte de uma realidade maior,
De uma apreciação de uma realidade,

Uma elevação, portanto, como se eu levasse,
Ao sair, algo palpável em todos os sentidos.

Porém nada mudou além do que é
Irreal, como se coisa alguma tivesse mudado.


Wallace Stevens, O imperador do sorvete e outros poemas

Wallace Stevens

Wallace Stevens – Meramente ser

Wallace Stevens

A palmeira no final da mente,
Além do pensamento último, se eleva
No brônzeo cenário.

Um pássaro de penas de ouro
Canta na palmeira, sem sentido humano,
Sem sentimento humano, um canto estrangeiro.

Então você entende que não é a razão
Que nos traz tristeza ou alegria.
O pássaro canta. As penas brilham.

A palmeira paira no limiar do espaço.
O vento roça devagar seus galhos.
As penas de ouro do pássaro resplendem fogo.

Wallace Stevens, O imperador do sorvete e outros poemas