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Ana Lucia Ometto

Ana Lucia Ometto

Ana Lucia Ometto – Grande abraço

Ana Lucia Ometto

Chovia dentro daquele menino
Exilado
Deserdado
Destronado.

Contou ao amigo que,
Numa noite em que viajava,
Criou reis e rainhas em seu reino
Onde pensou ser um rei.

Perdeu o controle de si
Quis possuir todas as paixões
Tornou-se indelicado
Quis se tornar “o senhor”,
Tornou-se sozinho
Viu-se em campo minado.

E o grande abraço,
O adeus
Do súdito querido
Movimentou seu reino sonhado
Deixou seu coração fragmentado
O súdito, seu herói se tornou

No momento
Que, amargurado, isso contou
Ao seu amigo, Deus, seu coração aliviou.
Do seu reinado destruído
O tabuleiro fechou.

Ser apenas um menino que brinca
É melhor do que brincar de ser rei.

Ana Lucia Ometto, Bolhas de sabão

Ana Lucia Ometto

Ana Lucia Ometto – Rodamoinho

Ana Lucia Ometto

E apesar da minha alma vagar ansiosa pela noite
Feito andarilho sem rumo, tomo um copo d’água, abro um livro.
Na tontura do sonho, no meio da noite, vem a vontade de escrever
Aquece e apetece em meio ao incerto
Sonho de sabor gostoso, sol da juventude do porvir.

E do choro faço alegria, pois o caos também tem tempo.
Tempo de vir e de ir, e no vir exaustados os versos cantam
Ansiosos para o eu apaziguar, escapa um canto leve:
Esperança — mar que eu transponho
Esperança nossa — pássaros melhores virão…
Bravo Brasil Batalha
Brava Gente Brasileira

Ana Lucia Ometto, Bolhas de sabão

Ana Lucia Ometto

Ana Lucia Ometto – No parque

Ana Lucia Ometto

Num dia bonito
Havia um solitário no parque
O banco que se sentava
Era visivelmente frio
Ele olhava para o relógio de tempos em tempos, num gesto aborrecido
Do seu lado, havia um canto a ser preenchido por casais que se amam
Amigos que observam os filhos a brincar e param ali para descansar e
conversar
Pelo professor que instrui seu aluno ou adolescentes que querem relaxar,
discutir sobre algo num lugar mais arejado.
Há tantas possibilidades de preencher um banco vazio e nem sempre
como os contados dos filmes bonitos
Assim, o espaço frio não foi preenchido naquele dia de sol.
Existia ali um homem calado do qual o riso fugiu e que olhava seu relógio
de tempos em tempos. Eram dez para dez, do dia vinte e três de maio de dois mil e dezenove.
Segurava algo nas mãos parecido com um diário, no qual, às vezes, escrevia.
O homem era o mais triste do jardim, se via de longe.
Uma pomba passou com uma luz infinita em sua frente
Ele levantou-se e se foi…

Ana Lucia Ometto, Bolhas de sabão

Ana Lucia Ometto

Ana Lucia Ometto – Soneto do canto

Ana Lucia Ometto

Bolo de fubá, café coado
Gosto doce da tua boca
Rir à toa, pitanga no prato
Carinho consciente é bom de fato

Suco de kiwi, seis ovos mexidos
Foco redobrado nas frutas e cereais
Pote de mel lambido, beijo na boca
Canto flauteado de Debussy

Manter o café aquecido
Banana, mel, aveia e canela
Eu e tu, tu e ela, somos nós…

Ativa o modo avião
Faz da rotina a cactinea
Na união do café com pão

Ana Lucia Ometto, Bolhas de sabão