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Adélia Maria Woellner

Adélia Maria Woellner

Adélia Maria Woellner – Aprendiz

Nasci de outras terras, 
vermelhas como a cor do sol 
da tarde 
anunciando estiagem. 
Foi longa e árida 
a viagem. 
Pés crestados 
na terra partida, 
ressequida 
de húmus e de vida. 
Porém, sobrevivi… 

Nasci de outras águas, 
fecundada fui 
no encontro das ondas com os rochedos. 
Por isso, 
cresci sem medos, 
mas parti os lábios 
no sal e no sol. 
Não pude sorrir, 
porém, sobrevivi… 

Surgi de outros ventos. 
Fui gerada em tufões, 
mas nasci do ventre da brisa. 
Rodopiei em rodamoinhos 
e fustiguei folhas, flores e frutos. 
Provei sabores 
doces e amargos… 
Corri mundos e não pude parar. 
Cansei, 
mas sobrevivi… 

Apareci assim, 
de repente, 
como salamandra entusiasmada. 
Vesti-me de cor e calor, 
lambi a casca da madeira seca 
e enxuguei o tronco úmido de lágrimas. 
Fogo incontrolado, 
querendo alcançar o céu, 
queimei e me consumi, 
vendo meu pranto arder ao léu. 
Mesmo assim, 
sobrevivi… 

Agora, sou como sou. 
Estou reaprendendo a viver.

Adélia Maria Woellner, Infinito em mim

Adélia Maria Woellner

Adélia Maria Woellner – Alienação

As nuvens se encolheram, 
abrindo caminho no céu, 
revelando a infinitude do vazio. 

O vento não soltou a voz; 
os animais se aninharam silenciosamente; 
as ondas se largaram, mansamente; 
o sol e a lua se encontraram no espaço; 
as hastes das plantas se dobraram 
e as flores encostaram as pétalas na relva, 
em gesto de reverência; 
os galhos das árvores se uniram, 
como se fossem mãos em prece. 

A natureza se prostrou, 
usufruindo a beleza da revelação. 

Só os homens, 
mergulhados no ruído do fazer, 
nada viram, 
nada ouviram… 
Nem entenderam 
por que tudo aconteceu…

 Adélia Maria Woellner, Infinito de Mim

Adélia Maria Woellner

Adélia Maria Woellner – Prece

Eu queria cantar o mundo, 
com voz bem afinada, 
e fazer ressoar meu canto 
em cada canto, 
em cada estrada. 

Eu queria tocar qualquer instrumento, 
que vertesse som, 
que fluísse música com harmonia 
e fazer cada corpo vibrar 
ao compasso da minha melodia. 

Eu queria ser pintor, 
espalhar cores, muitas cores, 
manchar telas com habilidade, 
retratar a natureza, os sentimentos, 
alegrar olhos e almas 
e transmitir paz, serenidade. 

Eu pedi a Deus tudo isso, 
pois queria enternecer corações, 
encher a vida de alegria, 
colorir pensamentos 
e despertar emoções… 

Antes mesmo de nascer, 
eu pedi para ser esteta… 
Ah! como eu pedi a Deus!… 
Pedi tanto, tanto, 
que Deus me fez poeta.

Adélia Maria Woellner, Infinito em Mim