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Stéphane Mallarmé

Stéphane Mallarmé

Stéphane Mallarmé – Primavera

Stéphane Mallarmé

A primavera enferma expulsou sem clemência
O inverno lúcido, estação de arte serena,
E no meu ser, que ao sangue obscuro se condena,
Num longo bocejar se espreguiça a impotência.

Crepúsculos sem cor amornam-me a cabeça,
Velha tumba que cinge um círculo de ferro,
E, amargo, atrás de um sonho vago e belo eu erro
Pelos trigais, onde se exibe a seiva espessa.

Exausto, eu tombo enfim entre árvores e olores,
E, cavando uma fossa para o sonho, a boca
Mordendo a terra quente onde germinam flores,

Espero que o meu tédio, aos poucos, vá-se embora…
– Porém, do alto, o Azul ri sobre a revoada louca
Dos pássaros em flor que gorjeiam à aurora.

Stéphane Mallarmé, Poesia da recusa

Stéphane Mallarmé

Stéphane Mallarmé – Aparição

Stéphane Mallarmé

A lua estava triste. Arcanjos sonhadores
Em pranto, o arco nas mãos, no sossego das flores
Aéreas, vinham tirar de evanescentes violas
Alvos ais resvalando entre o azul das corolas.
– Era o dia feliz do teu primeiro beijo.
Para me torturar meu sonho, meu desejo
Embriagavam-se bem do perfume de queixa
Que mesmo sem remorso e sem motivo deixa,
No coração que o colhe, a colheita de um sonho.

Eu ia à toa, o olhar no chão velho e tristonho,
Quando, trazendo nos cabelos um sol lindo,
Na alameda e na tarde apareceste rindo.
E eu julguei ver, com seu chapéu de luz, a fada
Que nos meus sonhos bons de criança mimada
Sempre deixou nevar dentre as mãos mal fechadas
Punhados celestiais de estrelas perfumadas.

Stéphane Mallarmé, Mallarmé

Stéphane Mallarmé

Stéphane Mallarmé – Angústia

Stéphane Mallarmé

Não venho, não, vencer esta noite o teu corpo
Animal, pecador por todo um povo, nem
Em tuas tranças cavar, impuras, tristes ondas
Sob o tédio mortal derramado num beijo:

No teu leito o que busco é um sonho sem sonhos
Perpassando por sob cortinas de remorsos,
E que podes gozar em mentiras medonhas,
Tu que sabes do nada ainda mais que os mortos:

Porque o Vício, a roer minha nobreza inata,
Marcou-me como tu com a esterilidade,
Mas enquanto em pedra o teu seio é talhado

Cheio de um coração que nenhum crime mancha,
Eu fujo, angustiado, da mortalha que é minha,
Com medo de morrer quando durmo sozinho.

Stéphane Mallarmé, Poesias