Meu corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por que colheste, no horto em que eu vivia,
meu corpo em flor de tâmara macia,
sem teres forças para machucá-lo?
Na excitação de um lúbrico intervalo,
sinto ânsia de amor na boca fria.
Senhor, não vens? Ai, como eu te amaria
nesse mesmo tapete em que eu resvalo.
Dói-me um desejo nessa estranha boda:
O ardor de ter num desvairado instante
alguém que possa machucar-me toda.
Os meus braços vazios já estão cansados.
Senhor, não queres o meu corpo arfante
que tem sabor de todos os pecados?
Raul Bopp, Poesia completa
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