Completei noventa anos
É idade bem comum,
Vou seguindo novos planos
Para os meus noventa e um,
Chegando aos noventa e dois
Procuro logo depois
O meu regime mudar,
Mudarei de refeição
Comendo feijão com pão
Para a saúde aumentar.
Quando mudar de comida,
Eu mudarei de atitude
Vou levando minha vida
Com poesia e saúde,
Sem faltar inspiração
Conhecendo com razão
Que o mundo foi Deus quem fez
E a vida não é sentença
Com a divina licença
Recito aos noventa e três.
Se a nossa vida é um drama
E este mundo é um teatro,
Conduzindo a mesma fama
Recito aos noventa e quatro,
Para mostrar o meu dom
Como sou poeta bom,
Com a poesia brinco
E mesmo neste absurdo
Cachingando, cego e surdo
Recito aos noventa e cinco.
Canto a Terra e o Infinito
Neste simples português,
Compondo verso bonito
Recito aos noventa e seis,
Cortando como gilete
Passo por noventa e sete
E vou aos noventa e oito,
Não há quem me desaprove
Que no meus noventa e nove
Rimo afoito com biscoito.
Mas quando completar cem,
Aí é dura a parada,
Não dou bolas pra ninguém
Nem quero saber de nada,
Vou todo cheio de ruga
Igualmente a tartaruga,
Com o pensamento fraco
Caducando lá num canto
Rimando diabo com santo
E careta com macaco.
Veja amigo esta verdade
Cheia de filosofia,
Isto aí é minha idade
Com a minha poesia.
Responda com brevidade
Dizendo se recebeu
A nossa velha amizade
Eu acho que não morreu.
Patativa do Assaré, Melhores poemas
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