Um gelo o envolveu, e ele,
antes tranquilo e bom, agora
é mais um filho que apela
para cuidados essenciais.
Sei que se foi, que paira
num limbo entre a vida e a noite:
mas às vezes o seu verde olhar
— que me iluminava tanto —
repousa em mim, e é como
se me desse recados do seu mundo.
Mesmo se beijo a sua boca inerte,
pego a sua mão tão magra,
digo seu nome pronunciado
em tantos anos,
ele apenas me olha, por um lapso
de segundo devolvido
a mim, outra vez me vendo,
quem sabe ainda uma vez
comigo.
Mas o anjo da morte,
que já encosta
nele a sua asa bela e fria,
novamente o recolhe nesse espaço
onde se afasta de mim sem viajar direito,
onde se vai sem se afastar de todo,
vacilando entre o nosso indagar
e as respostas que ele já percebe
do outro lado.
Lya Luft, Secreta mirada
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