Aqui se recolhem
os animais vagantes
em ruas estradas logradouros públicos
e os de qualquer natureza
encontrados em plantações
pastos
alheias terras
com ou sem dono conhecido.
(Anexo-dependência do Matadouro.)
Aqui se reúnem
a um passo, a uma parede,
a uma cerca baixa
da morte
os bichos errantes.
E formam nova sociedade.
A sociedade do depósito.
Aqui se espera
uma sorte qualquer
ou nenhuma.
Se passam para o outro lado
e são abatidos?
Se apodrecem aqui mesmo
ou fogem?
Quem virá buscá-los e para quê,
a burros velhos que não valem
o capim-gordura e o milho prêmios,
e a cachorros cegos de lazeira
desaprendidos de latir?
Aqui o Hotel do Fim, ao lado
o Matadouro, meta de ouro.
Carlos Drummond de Andrade, Boitempo – esquecer para lembrar
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