14, 23, 72, quantos músculos nesse sorriso, mais, quantos
dentes, a força, de onde vem a instrução que o
dispara em sua face e o inscreve na extremidade que divide o
dentro e o fora do seu corpo, do quê,
¿ onde sorri seu sorriso, sorri nos meus olhos, sorri no
espaço que nos separa nessa sala, brilha no escuro de que
noite, que nau com todas as velas pandas vem brincar
nas suas flâmulas, onde nasceu,
não como ideia, nem como vontade, a contrapelo
do mundo que o enquadra, ao revés de todas as caras guardadas
e mantidas à sua disposição para serem
lançadas quando a ocasião se apresenta,
não esse sorriso, incontido e inconsútil, ao perfurar as
inúmeras camadas que a compõem, indo e
vindo entre o que você tem de matéria e o
imaterial que infla sua carne,
não esse sorriso que se evadiu de você,
mas que é tão você que se agarra a sua imagem mesmo
depois de ter se ido, não esse sorriso que se
desembaraça do seu corpo e o sobrevoa,
e me assombra, e me assoma, ocorrendo em mim, me
percorrendo sinuoso e curvilíneo, esse sorriso sem ardis
mas que me queima, aceso desde a fonte desatinada
e seus coloridos imprudentes, esse sorriso agora
em minha boca
Caio Meira, Romance
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