eu vivo
como quem prende o cabelo a grampos
e deixa o dia escorrer assim
solvente
na esquina.
eu desfaço
enquanto ele é cama
a cantar sonoro.
(eu não acredito)
da nudez vaga que paira, só resta isso
fumar às auréolas
imaginar que ele tira a roupa
e se encaixa ali
no espaço despassado.
a vislumbrar o tempo
a acelerar o desprezo
a acalmar a impaciência
eu,
que nem ao gesto amanheço,
tomo tudo com o mesmo gosto
do mergulho perverso
inverso
que de pouco
de tão pouco
me excita.
Lorena Martins, Água para viagem
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