Cala-te, boca!
Mas como posso calar
se até as pedras da rua
falam e gritam sem parar?
Que falem até os mudos
e os próprios cegos digam
o que viram sem ver.
E mesmo os surdos contem
os gritos que subiram
da treva à luz do dia.
Se agora os mortos falam
com suas vozes de sangue
e seus corpos sumidos,
que, no coro dos vivos,
ninguém silencie.
Lêdo Ivo, Melhores poemas
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