José Luis Peixoto

José Luís Peixoto – Quando a ternura for a única regra da manhã

José Luís Peixoto
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um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.


José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas

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1 Comentário

  • Responder
    Alfredo Nobel
    10/06/2020 at 08:18

    Registrar o silêncio impactante das palavras ;palavras já não são silêncio, palavra.

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