Cora Coralina

Cora Coralina – A catedral de Goiás

cora coralina
image_pdfimage_print

Levantam­-se, postas
duas mãos pequenas de mulher…
É só o que se vê.
O mais, a face, o nome
A modéstia esconde.

Levantam­-se juntas
em postura humilde
essas mãos pequenas
que vão movendo
pedras e tijolos,
cal, areia e cimento
e homens sobre andaime.

E o velho paredão de pedras,
enegrecido pelos sóis e pelas chuvas,
desmantelado, há tanto tempo,
sem esperança e sem conforto
no olhar indiferente dos homens
rejuvenescido se levanta.
Apruma e se alteia para o espaço
afirmando a Fé no coração dos simples.

Duas mãos pequenas
de mulher
se estenderam de porta em porta
dos filhos de Goiás,
pedindo a sobra das mesas fartas.

Juntando aparas,
catando migalhas,
batendo na porta
dos corações,
essas mãos pequenas
no milagre da Fé,
multiplicam a esmola
que levanta a Catedral.

No silêncio da noite,
quando as luzes racionadas
se apagam na cidade,
da velha Matriz vejo sair
uma solene procissão de bispos,
de velhos cônegos
e de antigos clérigos
e monsenhores
do tempo da Matriz de pé,
do tempo da Matriz caída.
Políticos e governantes,
desembargadores e brigadeiros,
ricos e indigentes
passam lentamente,
olhando irreverentes,
a Catedral que se levanta
do montão de ruínas.

E avistam duas mãos
pequenas de mulher,
batendo na porta dos corações,
multiplicando pela Fé,
a esmola que levanta
a Catedral.

 

Cora Coralina, Villa boa Goyaz

Você gostou deste poema?

Você Pode Gostar Também

Sem comentários

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.