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Gabriela Mistral

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Gabriela Mistral – O Prazer de servir

Gabriela Mistral

Toda a natureza é um serviço.
Serve a nuvem, serve o vento, serve a chuva.
Onde haja uma árvore para plantar, plante-a você;
Onde haja um erro para corrigir, corrija-o você;
Onde haja um trabalho e todos se esquivam, aceite-o você.
Seja o que remove a pedra do caminho,
O ódio entre os corações e as dificuldades do problema.
Há a alegria de ser puro e a de ser justo;
mas (lá, sobretudo, a maravilhosa, a imensa alegria de servir.
Que triste seria o mundo, se tudo se encontrasse feito,
se não existisse uma roseira para plantar, uma obra a se iniciar!
Não o chamem unicamente os trabalhos fáceis.
É muito mais belo fazer aquilo que os outros recusam.
Mas não caia no erro de que somente há mérito
nos grandes trabalhos;
há pequenos serviços que são bons serviços:
adornar uma mesa, arrumar seus livros, pentear uma criança.
Aquele é o que critica; este é o que destrói; seja você o que serve.
O servir não é faina de seres inferiores,
Deus que dá os frutos e a luz, serve.
Seu nome é: AQUELE QUE SERVE!
Ele tem os olhos fixos em nossas mãos
e nos pergunta cada dia: SERVIU HOJE? A QUEM?
À ARVORE? A SEU IRMÃO? À SUA MÃE?

 

Gabriela Mistral, Antologia poética

Gabriela Mistral

Gabriela Mistral – Adormece junto a mim

Gabriela Mistral

Meu bonequinho de carne
que, nas entranhas, teci,
bonequinho temeroso,
adormece junto a mim.

Dorme a perdiz no trigal
e ouve-lhe a voz de cetim.
Não te inquietem meus alentos,
adormece junto a mim.

Ervazinha tremedeira,
por que te assustas assim?
Não resvales de meus braços,
adormece junto a mim.

Eu, que tudo já perdi,
para dormir tremo assim.
Não resvales de meu peito,
adormece junto a mim.

 

Gabriela Mistral, Antologia poética

Gabriela Mistral

Gabriela Mistral – Dá-me tua mão

Gabriela Mistral

Dá-me tua mão, e dançaremos;
dá-me tua mão e me amarás.
Como uma só flor nós seremos,
como uma flora, e nada mais.

O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo bailarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga, e nada mais.

Chamas-te Rosa e eu Esperança;
Porém teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
sobre a colina, e nada mais.

 

Gabriela Mistral, Antologia Poética 

Gabriela Mistral

Gabriela Mistral – Coplas

Gabriela Mistral

A tudo, em minha boca,
um sabor de lágrimas se acresce;
a meu pão cotidiano, a meu canto
e até à minha prece.

Eu não tenho outro oficio,
depois do silente de amar-te,
que este oficio de lágrimas, duro,
que tu me deixaste.

Olhos apertados de candentes lágrimas!
Boca atribulada e convulsa,
em que prece tudo se tornava!

Tenho um vergonha
deste modo covarde de ser!
Nem vou em tua busca
nem consigo também te esquecer!

E há um romoer que me sangra
de olhar um céu
não visto por teus olhos,
de apalpar as rosas
sustentadas pela cal de teus ossos!

 

Gabriela Mistral, Antologia Poética