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Bráulio Bessa

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Prefiro a simplicidade

bráulio Bessa

Carne-seca e macaxeira
um cozido de capote
água fria lá no pote
melhor que da geladeira.
No terreiro a poeira
se espalha na imensidão
de paz e de comunhão
que não se vê na cidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Bodegas pra se comprar
é o nosso supermercado
que ainda vende fiado
pois dá pra se confiar.
Um caderno pra anotar
não carece de cartão
pois às vezes falta pão
mas não falta honestidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Tem cuscuz na cuscuzeira,
tapioca e mucunzá
um bolinho de fubá
e tripa na frigideira.
Milho assado na fogueira
que aquece o coração
além de ser tradição
é comida de verdade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

A família retratada
pendurada na parede
não tem curtidas na rede
mas tem rede bem armada.
A vida não é postada
nem passa em televisão,
o HD do coração
é quem salva de verdade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

A criançada brincando
de ser livre, de ser vivo
sem ter um aplicativo,
sem ter download baixando.
Vejo um menino pintando
um desenho feito à mão
sem nenhuma intervenção
lhe roubando a ingenuidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Tem o som da natureza
melhor que MP3
eu garanto a vocês
nem se compara a beleza.
Existe tanta riqueza
espalhada nesse chão
como disse Gonzagão
e ecoa na eternidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Tem a seca, essa bandida
que é cinza feito o asfalto,
porém não temos assalto
tampouco bala perdida.
Não é fácil nossa vida,
mas transbordo a gratidão
de viver nesse torrão
mesmo com dificuldade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Ninguém venha me tachar
de matuto, ultrapassado,
tampouco desinformado,
é fácil de se explicar.
Se um dia o homem usar
toda e qualquer invenção
pensando em evolução
e no bem da humanidade,
a tal da modernidade
é bem-vinda no Sertão.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Fome

bráulio Bessa

Eu procurei entender
qual a receita da fome,
quais são seus ingredientes,
a origem do seu nome.
Entender também por que
falta tanto o “de comê”,
se todo mundo é igual,
chega a dar um calafrio
saber que o prato vazio
é o prato principal.

Do que é que a fome é feita
se não tem gosto nem cor
não cheira nem fede a nada
e o nada é seu sabor.
Qual o endereço dela,
se ela tá lá na favela
ou nas brenhas do sertão?
É companheira da morte
mesmo assim não é mais forte
que um pedaço de pão.

Que rainha estranha é essa
que só reina na miséria,
que entra em milhões de lares
sem sorrir, com a cara séria,
que provoca dor e medo
e sem encostar um dedo
causa em nós tantas feridas.
A maior ladra do mundo
que nesse exato segundo
roubou mais algumas vidas.

Continuei sem saber
do que é que a fome é feita,
mas vi que a desigualdade
deixa ela satisfeita.
Foi aí que eu percebi:
por isso que eu não a vi
olhei pro lugar errado
ela tá em outro canto
entendi que a dor e o pranto
eram só seu resultado.

Achei seus ingredientes
na origem da receita,
no egoísmo do homem,
na partilha que é malfeita.
E mexendo um caldeirão
eu vi a corrupção
cozinhando a tal da fome,
temperando com vaidade,
misturando com maldade
pro pobre que lhe consome.

Acrescentou na receita
notas superfaturadas,
um quilo de desemprego,
trinta verbas desviadas,
rebolou no caldeirão
vinte gramas de inflação
e trinta escolas fechadas.

Sendo assim, se a fome é feita
de tudo que é do mal,
é consertando a origem
que a gente muda o final.
Fiz uma conta, ligeiro:
se juntar todo o dinheiro
dessa tal corrupção,
mata a fome em todo canto
e ainda sobra outro tanto
pra saúde e educação.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Medo

bráulio Bessa

Que o medo de chorar
não lhe impeça de sorrir.
Que o medo de não chegar
não lhe impeça de seguir.
Que o medo de falhar
não lhe faça desistir.

Que o medo do que é real
não lhe impeça de sonhar.
Que o medo da derrota
não lhe impeça de lutar.
E que o medo do mal
não lhe impeça de amar.

Que o medo de cair
não lhe impeça de voar.
Que o medo das feridas
não lhe impeça de curar.
E que o medo do toque
não lhe impeça de abraçar.

Que o medo dos tropeços
não lhe impeça de correr.
Que o medo de errar
não lhe impeça de aprender.
E que o medo da vida
não lhe impeça de viver.

O medo pode ser bom
serve pra nos alertar,
tem função de proteger,
mas pode nos ensinar
que às vezes até o medo
vem pra nos encorajar…

Repare,

Se há medo de perder,
é sinal para cuidar.
Se há medo de desistir,
é sinal para tentar.
Se há medo de ir embora,
é sinal para ficar.

Se há medo da maldade,
é sinal para amar.
Se há medo do silêncio,
é sinal para falar.
Se o silêncio insistir,
é sinal para cantar.

Se há medo do escuro,
é sinal para iluminar.
Se há medo de um erro,
é sinal para caprichar.
Se há medo, meu amigo,
é sinal para enfrentar.

Toda coragem precisa
de um medo pra existir.
Uma estranha dependência
complicada de sentir.
A coragem de levantar
vem do medo de cair.

Use sempre a coragem
para se fortalecer.
E quando o medo surgir
não precisa se esconder.
Faça que seu próprio medo
tenha medo de você.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Sonhar

bráulio Bessa

Sonhar é verbo, é seguir,
é pensar, é inspirar,
é fazer força, insistir,
é lutar, é transpirar.
São mil verbos que vêm antes
do verbo realizar.

Sonhar é ser sempre meio,
é ser meio indeciso,
meio chato, meio bobo,
é ser meio improviso,
meio certo, meio errado,
é ter só meio juízo.

Sonhar é ser meio doido
é ser meio trapaceiro,
trapaceando o real
pra ser meio verdadeiro.
Na vida, bom é ser meio,
não tem graça ser inteiro.

O inteiro é o completo,
não carece acrescentar,
é sem graça, é insosso,
é não ter por que lutar.
Quem é meio é quase inteiro
e o quase nos faz sonhar.

O quase é estar tão perto,
é quase encostar a mão,
todo quase é quase lá,
todo lá é direção,
é a vida quase dizendo
e você quase entendendo,
basta ver com o coração.

É amigo e inimigo…
quase agi, quase tentei,
quase achei que era possível,
quase ouvi, quase falei
e, claro, o principal quase
que é o quase acreditei.

Acredite que sonhar
também é compreender
que nem sempre o que se sonha
é o melhor pra você
e que não realizar
nem sempre será sofrer.

Sonhe sempre e seja grato
pelo sonho que já tem,
repare cada detalhe
das coisas que fazem bem,
o pouco que hoje é seu
é o muito pra alguém.

Ter um chão para pisar,
um sol pra lhe dar calor,
ter o ar pra respirar,
ter saúde, ter amor,
ter tudo isso já faz
de você realizador.

Seja sempre inquieto
e vez por outra paciente.
Parece contraditório,
soa meio diferente,
às vezes pisar no freio
também é andar pra frente.

A vida não é tão simples,
viver não é só sorrir,
a lagarta que rasteja
rasteja pra evoluir,
se transforma em borboleta,
depois voa por aí…

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Se

bráulio Bessa

E se ninguém me der força
E se ninguém confiar
E se eu for invisível
E se ninguém me enxergar
E se eu perder a fé
Se eu não ficar de pé
Se eu voltar a cair
Se a lágrima escorrer
Se, por medo de sofrer
eu pensar em desistir.

E se quando eu cair
ninguém me estender a mão.
E se quando eu me perder,
sem rumo, sem direção,
Se eu não achar o caminho
Se eu estiver sozinho
no labirinto da vida.
E se tudo for escuro
Se eu não vir um futuro
na estrada a ser seguida.

E se esse tal futuro
for pior do que o presente
E se for melhor parar
do que caminhar pra frente
E se o amor for dor
E se todo sonhador
não passar de um pobre louco
E se eu desanimar,
Se eu parar de sonhar
queda a queda, pouco a pouco.

E se quem eu mais confio
me ferir, me magoar
E se a ferida for grande
E se não cicatrizar
Se na hora da batalha
minha coragem for falha
Se faltar sabedoria
Se a derrota chegar
E se ninguém me abraçar
na hora da agonia.

E se for tarde demais
E se o tempo passar
E se o relógio da vida
do nada se adiantar
E se eu avistar o fim
chegando perto de mim,
impiedoso e veloz,
sem poder retroceder,
me fazendo perceber
que o SE foi meu algoz.

E se eu pudesse voltar…
Se o SE fosse diferente
Se eu dissesse pra mim mesmo:
Se renove, siga em frente.
Se arrisque, se prepare
E se cair jamais pare
Se levante, se refaça,
Se entenda, se reconheça
E, se chorar, agradeça
cada vez que achou graça.

Se desfaça da preguiça,
do medo, da covardia
Se encante pela chance
de viver um novo dia
Se ame e seja amor
Se apaixone, por favor,
Se queira e queira bem,
Se pegue, se desapegue
Se agite, desassossegue
E se acalme também.

Se olhe, se valorize
E se permita errar
Se dê de presente a chance
de pelo menos tentar
Se o SE for bem usado,
o impossível sonhado
pode se realizar.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – A corrida da vida

bráulio Bessa

Na corrida dessa vida
é preciso entender
que você vai rastejar,
que vai cair, vai sofrer
e a vida vai lhe ensinar
que se aprende a caminhar
e só depois a correr.

A vida é uma corrida
que não se corre sozinho.
E vencer não é chegar,
é aproveitar o caminho
sentindo o cheiro das flores
e aprendendo com as dores
causadas por cada espinho.

Aprenda com cada dor,
com cada decepção,
com cada vez que alguém
lhe partir o coração.
O futuro é obscuro
e às vezes é no escuro
que se enxerga a direção.

Aprenda quando chorar
e quando sentir saudade,
aprenda até quando alguém
lhe faltar com a verdade.
Aprender é um grande dom.
Aprenda que até o bom
vai aprender com a maldade.

Aprender a desviar
das pedras da ingratidão,
dos buracos da inveja,
das curvas da solidão,
expandindo o pensamento
fazendo do sofrimento
a sua maior lição.

Sem parar de aprender,
aproveite cada flor,
cada cheiro no cangote,
cada gesto de amor,
cada música dançada
e também cada risada,
silenciando o rancor.

Experimente o mundo,
prove de todo sabor,
sinta o mar, o céu e a terra,
sinta o frio e o calor,
sinta sua caminhada
e dê sempre uma parada
pelo caminho que for.

Pare, não tenha pressa,
não carece acelerar,
a vida já é tão curta,
é preciso aproveitar
essa estranha corrida
que a chegada é a partida
e ninguém pode evitar!

Por isso é que o caminho
tem que ser aproveitado,
deixando pela estrada
algo bom pra ser lembrado,
vivendo uma vida plena,
fazendo valer a pena
cada passo que foi dado.

Aí sim, lá na chegada,
onde o fim é evidente,
é que a gente percebe
que foi tudo de repente,
e aprende na despedida
que o sentido da vida
é sempre seguir em frente.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Recomece

bráulio Bessa

Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar…
É hora do recomeço.
Recomece a LUTAR.

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar…
É hora do recomeço.
Recomece a ACREDITAR.

Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar…
É hora do recomeço.
Recomece a CAMINHAR.

Quando o mal for evidente
e o amor se ocultar,
quando o peito for vazio,
quando o abraço faltar…
É hora do recomeço.
Recomece a AMAR.

Quando você cair
e ninguém lhe aparar,
quando a força do que é ruim
conseguir lhe derrubar…
É hora do recomeço.
Recomece a LEVANTAR.

Quando a falta de esperança
decidir lhe açoitar,
se tudo que for real
for difícil suportar…
É hora do recomeço.
Recomece a SONHAR.

Enfim,

É preciso de um final
pra poder recomeçar,
como é preciso cair
pra poder se levantar.
Nem sempre engatar a ré
significa voltar.

Remarque aquele encontro,
reconquiste um amor,
reúna quem lhe quer bem,
reconforte um sofredor,
reanime quem tá triste
e reaprenda na dor.

Recomece, se refaça,
relembre o que foi bom,
reconstrua cada sonho,
redescubra algum dom,
reaprenda quando errar,
rebole quando dançar,
e se um dia, lá na frente,
a vida der uma ré,
recupere sua fé
e RECOMECE novamente.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Uma carrada de amor

bráulio Bessa

Despeje na sua vida
uma carrada de amor
de diferentes idades,
de todo tipo de cor.
Sem inventar divisões
por crenças, religiões,
orientação sexual,
que eu garanto a você
que vai ser fácil entender
que todo amor é normal

O importante é amor.
Sem rédeas e sem censura,
mesmo que a sociedade
às vezes seja tão dura;
amar é sentir coragem!
Sem fingir, sem camuflagem,
sem medo de ser julgado,
pois quem julga um amor
não é juiz, não sinhô,
é no fundo um mal amado.

 

Bráulio Bessa, Poesia com rapadura

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Amor ideal

bráulio Bessa

Repare,
…que tanta gente no mundo
corre em busca do amor,
alguém que seja ideal,
aquela altura, aquela cor,
aquele extrato bancário,
aquele belo salário,
há quem ligue pra idade,
pra raça, religião…
Mas quem busca perfeição
não busca amor de verdade.

O ideal é amor,
inclusive o diferente!
Afinal que graça tem
amar uma cópia da gente?
Procure sem ter critérios,
o amor tem seus mistérios…
Deixa a gente atordoado.
Você sai a procurar
e ao invés de achar
acaba sendo achado.

E quando o amor lhe acha
não tem pra onde correr.
Finda logo essa besteira
de mil coisas pra escolher,
finda todo preconceito…
É como se no seu peito
coubesse o mundo inteiro,
com todo tipo de gente
e aceita que o diferente
é só alguém verdadeiro.

Percebe que a estrada
é repleta de amor,
e você nessa jornada
vai sorrir, vai sentir dor,
vai errar e acertar
na peleja pra encontrar
Um sentimento real.
Uma dica, companheiro:
se o amor for verdadeiro
já é o amor ideal.

 

Bráulio Bessa, Poesia com rapadura

Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Tempo e amor

bráulio Bessa

Não existem regras, números, nem leis
quando o amor chega quietinho e contagia.
De repente você sente uma agonia…
Geralmente isso acontece aos dezesseis.
Calendários já não servem pra vocês,
o real se transforma em fantasia,
as tristezas são curadas com alegria.
Um instante dura uma eternidade,
pro amor não há tempo nem idade
o segredo é amar mais a cada dia.

E assim, vão seguindo a caminhada
na certeza que o amor não foi em vão.
Um pro outro feito o vento e o balão,
desviando dos espinhos na estrada,
enfrentando cada choro com risadas,
renovando a todo dia essa união:
com amor, respeito e dedicação.
Por mais seis, sessenta ou até seiscentos,
viveria de novo cada momento
caminhando e segurando a sua mão.

 

Bráulio Bessa, Poesia com rapadura