Adélia Prado

Adélia Prado – Três mulheres e uma quarta

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Arnalda, Alice e Armantilda
são três mulheres piedosas
que amam passar as tardes no serviço do templo.
Arnalda, forte e bruta,
lava teto, piso e paredes,
lustra sacrário e átrio.
Alice é para as flores:
a espécie conforme o jarro
e o calendário litúrgico.
Armantilda é para adorar.
O Senhor ama igualmente as três,
mas simpatiza mais com Araceli.
À uma e meia da tarde elas vêm
com balde, rosário e rosas,
Araceli com seu nariz.
Ai que cheiro, ela diz:
poeira, flor murcha e incenso,
o sovaco de Deus.
Ai que cheiro, ela diz,
louvado seja!
Quando ela chega, desacomoda o pó
de entremeio-os-dedos das imagens,
os toquinhos de vela crepitam e morrem,
arroxeiam de vez as rosas de remédio na jarrinha.
Araceli cheira e cata,
feliz como um cachorro, e sai
com o lixo sagrado dela.

Adélia Prado, O Coração Disparado

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