Nós, o esquecido povo Delta,
o povo do leito seco do rio,
cabelos sempre chamando por chuva,
pele voltada para o céu desejando nuvens,
nós representamos o sangue.
Ajoelhamo-nos para água.
Para o óleo, nos deitamos,
dedos esparramados, como se desta forma
pudéssemos patinar pela argila amarela de tudo
como insetos na lagoa.
Assim está escrito:
cure-se, meu bem.
Com a árvore e o toque, com a cúrcuma.
Neste mundo, nada frágil prevalece,
por isso neste mundo, a gordura é um elogio,
não, é uma arma,
não, é um sonho que você teve, onde estava frio
e sua mãe, vendo a ameaça cinzenta em seus cotovelos
e sabendo que cinzas são a linguagem dos mortos
ajoelhou-se e colocou as mãos em seu rosto assim
e a ungiu, uma criança protegida, um ferro quente numa zona de gelo.
Lembre-se disso, e
não tema a abundância.
Ressuscite, reluzindo na sua história.
Brilhe.
Eve L. Ewing, Afrofutulírica – Poemas Elétricos – Tradução, Nina Rizzi
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