Manuel Bandeira

Manuel Bandeira – Ruço

Muda e sem trégua
Galopa a névoa, galopa a névoa.

Minha janela desmantelada
Dá para o vale do desalento.

Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento.

Lá vão os dias de minha infância
– Imagens rotas que se desmancham:

O vento do largo na praia,
O meu vestidinho de saia,

Aquele corvo, o vôo torvo,
O meu destino aquele corvo!

O que eu cuidava do mundo mau!
Os ladrões com cara de pau!

As histórias que faziam sonhar;
E os livros: Simplício olha pra o ar,

João Felpudo, Viagem à roda do mundo
Numa casquinha de noz.

A nossa infância, ó minha irmã, tão longe de nós!

Manuel Bandeira, As cinzas das horas

Tudo é Poema

Publicado por
Tudo é Poema

Poemas Recentes

Paul Auster – Canção dos graus

Nos terrenos baldios… Leia Mais

2 dias atrás

Nikki Giovanni – Pão

Eu estava sonhando… Leia Mais

2 dias atrás