Adrilles Jorge

Adrilles Jorge – Do que venha a ser

Sou mais aquilo que não fiz de mim
sou o que sendo poderia ser
projeto inacabado de presente
onde trespassado pela ausência
soergo a diáspora de receios e anseios
a outros mesmos cantos do que eu seria

Sou também o que me fizeram
tangenciado por acertos erros e projetos de outrem
objeto talhado pela (in)consciência coletiva
embalado pelas mãos do sono, do ódio e do afeto
que me despertam da ilusão de ser um só

Sou este ente pensado
criado recortado bricolado
pelo teorema dos meus nossos juízos sobrepostos
o mamulengo da sorte
a morder as cordas que me prendem e me protegem da queda

Sou o recorrente suicídio,
calculado tacitamente por intenções contrárias
como desculpa e apelo à permanência

Sou definitivamente a farsa do meu fim

Sou o histrião da repetição da invenção humana
a gargalhar da própria difusa fecundidade

Seria até minha desconstrução
não fosse esta meritosa condenação
de — supostamente — ser alguém.

Adrilles Jorge, Antijogo

Tudo é Poema

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  • A multi-facetada mente inerente aos mais diversos sonhos de seres também doentes.

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