por que fui nascer poeta?
as palavras me engasgam
prendem na garganta
falta o ar
não embelezam meu dia
não hoje
não neste dia
a vida de poeta
me embaralha nas letras
fico perdida nas emoções
nas curvas da vida
porque o poeta
sente forte o que vê
às vezes enlouquece
quando as palavras perdidas
pelo corpo
engessam a alma
o poeta se desespera
quando o silêncio
vence o grito
e ele não consegue
pôr no papel
aquilo que em sua alma
sangra
o poeta enlouquece
quando uma página branca
atravessa o seu dia
os rabiscos ficam vazios
sem nexo
ele risca
rabisca em vão
e não consegue
que sua alma se esparrame
tempos sombrios
para o poeta que se delicia com a beleza
com a suavidade da alma
hoje um martelo crava
em seu peito uma estaca
e ele não consegue respirar
de dor
as palavras perderam o caminho da boca
ficam embrulhadas no meio do estômago
não sai uma só palavra
só restou um vazio
oco
no meio dos lábios
Thelma Miguel, O silêncio e o grito