Seamus Heaney

Seamus Heaney – Seguidor

Meu pai lavrava com charrua e cavalo.
Os ombros redondos como velas pandos
Entre os varais e o sulco. Bastava um estalo
De língua e os cavalos iam forcejando.

Um conhecedor. Colocava a travessa
E ajustava a relha de aço agudo e vivo.
Rolavam sem quebrar os torrões de terra.
Na borda do campo, a um tirão imprevisto

De rédeas, a junta suarenta virava
E voltava para o terreno. Ele
Estreitava um olho a fitar a lavra,
Traçando o sulco exatamente.

Eu tropeçava nas pegadas das botas,
Caía às vezes na céspede luzida;
Às vezes ele levava-me nas costas
Descendo e subindo ao ritmo da lida

Eu queria crescer e lavrar,
Fechar um olho, firmar os braços.
Tudo o que fiz foi seguir sem parar
Pela fazenda à sombra de seus passos.

Um estorvo, falante, falseando,
Caindo sempre. Mas agora
É meu pai que vive tropeçando
Atrás de mim, e não vai embora.

Seamus Heaney, Poemas

Tudo é Poema

Publicado por
Tudo é Poema
  • Poemas Recentes

    Pablo Neruda – Ausência

    Ainda há pouco… Leia Mais

    6 dias atrás

    Margaret Atwood – Ah, crianças

    Ah, crianças, vocês… Leia Mais

    6 dias atrás

    Jorge Luis Borges – O labirinto

    Nem Zeus desataria… Leia Mais

    7 dias atrás