Mia Couto – Beijo

Não quero o primeiro beijo: 
basta-me 
o instante antes do beijo. 

Quero-me 
corpo ante o abismo, 
terra no rasgão do sismo. 

O lábio ardendo 
entre tremor e temor, 
o escurecer da luz 
no desaguar dos corpos: 
o amor 
não tem depois. 

Quero o vulcão 
que na terra não toca: 
o beijo antes de ser boca. 

Mia Couto, Tradutor de chuvas