Marina Colasanti – Mesmo parada

O que se move na noite escura?
Cupim roendo madeira dura,
gambá na toca, pingo de chuva,
pata que cava, unha que fura,
sombra entrevista pela fissura.

Na noite muda, quem faz ruído?
Água que corre, bicho ferido,
folha que morre, galho partido,
suspiro, espirro, ronco e grunhido,
vento que sopra como um gemido.

A noite avança. Mesmo parada
a madrugada move suas asas
sobre o telhado das casas. E já
a boca da noite bebe leite,
e o galo canta o nome da manhã.

 

Marina Colasanti, O nome da manhã