Luís de Camões – IV (Busque Amor novas artes, novo engenho)

Busque Amor novas artes, novo engenho
pera matar-me, e novas esquivanças,
que não pode tirar-me as esperanças;
que mal me tirarão o que eu não tenho.

Olhai de que asperezas me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes, nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que nalma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei donde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões, Melhores poemas