Luís de Camões – I (Alegres campos, verdes arvoredos)

Alegres campos, verdes arvoredos,
claras e frias ágoas de cristal,
que em vós as debuxais ao natural
discorrendo da altura dos rochedos!

Silvestres montes, ásperos penedos,
compostos em concerto desigual!
Sabei que, sem licença do meu mal,
já não podeis fazer meus olhos ledos.

E pois já me não vedes como vistes,
nem me alegram verduras deleitosas,
nem as ágoas claras que das fontes vêm,

semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas,
e nacerão saudades do meu bem.

 

Luís de Camões, Melhores poemas