Jorge Luis Borges – Um livro

Apenas uma coisa entre as coisas
Mas também uma arma. Foi forjada
Na Inglaterra, em 1604,
E carregada com um sonho. Encerra
Som e fúria e noite e escarlate.
Minha palma a sopesa. Quem diria
Que contém o inferno: as barbadas
Bruxas que são as parcas, os punhais
Que executam as leis da sombra,
E o ar delicado do castelo
Que vai ver-te morrer, a delicada
Mão capaz de ensangüentar os oceanos,
A espada e o clamor de uma batalha.

Esse tumulto silencioso dorme
No espaço de um daqueles livros
Da sossegada estante. Dorme e espera.

Jorge Luis Borges, Poesia