Francesco Petrarca – I (Vós que em rimas esparsas escutais)

Vós que em rimas esparsas escutais
o som que me embalava o coração
do juvenil engano na ilusão,
quando fui homem que hoje não sou mais,
dos modos mil com que choro meus ais
entre esperança e sofrimento em vão,
de quem do amor conheça os rituais
espero achar piedade, e até perdão.
Hoje percebo que a futilidade
me fez alvo de crítica frequente
e disso muitas vezes me envergonho;
resta-me o pejo por minha vaidade
e arrepender-me, vendo claramente
que a alegria no mundo é breve sonho.

Francesco Petrarca, Na terra e no céu – 84 sonetos de amor para Laura – Tradução, Sergio Duarte