Eugénio de Andrade – Soneto menor à chegada do verão

Eis como o verão
Chega de súbito,
Com seus potros fulvos,
Seus dentes miúdos,

Seus múltiplos, longos
Corredores de cal,
As paredes nuas,
A luz de metal,

Seu dardo mais puro
Cravado na terra,
Cobras que despertam

No silêncio duro –
Eis como o verão
Entra no poema.

Eugénio de Andrade, Cinco séculos de sonetos portugueses